sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Quereres mudos

Hoje vi um homem chorar.
Vi muito poucos homens chorarem na minha presença. Os últimos choravam a morte do pai.
Evidentemente que os homens também choram, mas causa alguma estranheza porque costumam ser mais contidos, reservados.
E este homem chorava num local público. Embora o tentasse esconder, não o conseguiu evitar.
À sua frente, outro homem. Mais velho. Impotente. É preciso o fardo ser bem pesado para um homem chorar assim.
Desejei confortá-lo e dizer-lhe que as coisas iriam melhorar um dia.
Mas com certeza o meu gesto seria visto como incómodo.
E irão mesmo melhorar?
Por isso ficou o desejar-lhe bem...mudo. Esperando que de algum modo isso ajude a consertar alguma coisa.
Como o (nosso) mundo seria tão melhor se se curasse com os nossos quereres mudos...
Quantas vezes estamos perante alguém, desejamos-lhe tanto bem e não sabemos como expressá-lo...
É tal o nosso tumulto interior que as palavras não se coordenam e ficamos pelo sentido.
E se palavra e gesto juntos são tão importantes, por vezes, simplesmente o gesto vale mais que um discurso elaborado e reconfortante, porque naquela altura mais dolorosa nada conforta. O desespero agradece a simples presença de alguém, ainda que mudo, mas por perto.
E tudo isto me transporta para muito mais, para aquilo que fica por dizer, desnecessariamente.
Tornámo-nos especialistas em implosões.

This is the land of thousand words but it seems so few are worth the breath to say ♫