segunda-feira, 24 de março de 2014

Sem direito a assento na festa

Há o nosso espaço. O nosso lugar.
Há os espaços dos outros. Os lugares deles.
Há os espaços, os lugares de outros que desejamos, aos quais nos apegamos, sobre os quais expectamos.
É de uma felicidade incompleta, aquele espaço vivo que não se interliga com os outros espaços. Sós, somos alguém, mas com outros somos sempre muito mais.
Há espaços em que desejamos ficar. Porque nos permitem dar tudo o que temos. Porque nos permitem receber tudo o que nos têm para dar. E é esta troca a seiva de uma vida.
Tenho coração nos olhos, nos ouvidos, nos dedos, na boca, nos poros, no sangue. Infiltra-se na minha razão... Não o quero só no meu espaço. As paredes não aguentam o tumulto.
Dar, dar, dar... E é um dar cansado, magoado, receoso, ainda que sempre esperançado.
Há espaços que não nos deixam entrar e o vazio contamina.
Um vazio onde o desânimo e a descrença se instalam.
É quando a boca sabe a fado... e apetece fechar o casulo, indefinidamente...


 Já estou louca de estar só

Acompanhada do nada

Já estou cheia de ser rua

Tão corrida tão pisada

Já estou prenha de amizades

Tão barriga de saudades

Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão

E nela entrelaçar

O amor de uma canção

Chegar ao cume, ao cimo, ao alto

Mais longe, mais além

Mas a saber que sou mulher

Na cidade sou loucura

Sou begónia, sou ciúme

E eu que sonhava ser lume

Caminho, atalho, lonjura

Não tenho assento na festa

Sou a migalha que resta

Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão

E nela entrelaçar


O amor de uma canção

Chegar ao cume, ao cimo, ao alto


 Mais longe, mais além
Mas a saber que sou Mulher

(ensaios & espectáculo "Mulheres")
(Legendas retiradas da canção "Fala da Mulher Sozinha")