segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Um mundo de pequenas coisas boas

A 17 de Agosto de 2013 começou esta aventura.
Alguma referência tinha de lhe fazer porque foi um projecto de amor-próprio.
Não foi uma passa no reveillon 2012, não era um objectivo para 2013.
Mas surgiu a ideia, quase do nada, incentivada por alguns amigos.
Estou feliz com este cantinho de escrita, muito meu e outro tanto vosso.
Obrigada por me lerem. Por lhe darem vida.

Há já alguns anos que não faço lista de desejos para o Ano Novo. Por desânimo, por descrédito, por falta de vontade e, por fim, para ver o que o ano novo me reservava. Se pedindo não me era dado, então deixa experimentar não pedir...
Acima de tudo o réveillon era mais uma ocasião para estar com pessoas que gostava. Parece que a vontade esperançosa num mundo melhor saía mais reforçada... e regada :).
Muita coisa boa nos acontece sem a planearmos e esperarmos. E se há objectivos que não se cumprem, outros nascerão no lugar dos ausentes. Quem sabe até melhores.
Amanhã, último dia do ano, vou até ao mar, num cantinho entre ondas e areal, ler os meus momentos felizes que fui colocando num frasco para mais tarde recordar. Sei que vou sorrir tanto...
Será a minha reflexão de esperança para 2014. Se houve momentos maus também os houve bons e são esses que quero recordar num ano de expectativas furadas.
Somos muito mais felizes do que imaginamos e sentimos.
Acho que é esta a minha grande conclusão/lição em 2013. Basta estar atento. Ser dado. E acarinhar.
Fiz novas amizades, reforcei outras, dancei, ninguém me morreu, estou de saúde e tenho trabalho. Gostam de mim. Nos intervalos disto tudo, um mundo de pequenas coisas boas me aconteceu. Só posso ser uma grande felizarda.
A vocês, desejo-vos Amor. Com Amor tudo (melhor) se suporta. Acho.
Não nos iludamos, a tristeza é parceira da alegria. 1 de Janeiro é a seguir a 31 de Dezembro e antes de 2 de Janeiro. A mudança não se dá em datas, mas em instantes. Que os vossos sejam muito felizes e que se apercebam deles.
Façam alguém feliz.
Amem e sorriam. Muito. Para alguém. Com alguém. Por causa de alguém. Por tudo. E por nada.


                                                       Eu vou tentando :)




sábado, 28 de dezembro de 2013

Somos nada.

Somos nada.
Somos muito, muitas vezes tudo para alguém. No entanto, somos nada.
Num instante, naquele segundo, a vida vai-se. E não sabemos as razões do arbítrio da vida. Ou será da morte?
Decidimos alguma coisa? Não decidimos rigorosamente nada?
Somos nada.
Não entendo a razão das mortes que parecem fora de contexto.
Quem prefere abdicar da vida tem as suas razões, serão sempre corajosos para mim.
Mas e os que ainda amam a vida? Porque morrem inexplicavelmente?
Que significado para o universo (?)  tiveram as pessoas que morreram de repente, sem razão aparente? Que foram assassinadas? Que sofreram acidentes mortais? Que morreram em situações completamente estúpidas? Que morreram de fome? Que morreram por falta de cuidados de saúde? Que morreram por negligência médica? Que morreram por uma doença vinda do nada e que não queriam?
Para que nascem se vão ter uma morte sem aparente significado? Como se a vida deles não fosse suficientemente válida para ficar cá mais uns anos...
Porque morrem os bons? E porque vivem tanto tempo pessoas completamente dispensáveis?
Ceifam-se vidas que sorriem para a Vida e que fazem tanta falta por cá.
Não quero mais estrelas no céu, já bastam as que lhe pertencem naturalmente.
Quero as estrelas na terra, as que nos dão ânimo para acreditar num mundo melhor, as que nos dão alento para vencer batalhas sem fim numa guerra que desde o nascimento está perdida.
Somos nada.
E talvez seja por isso mesmo que devamos fazer algo bom e válido por nós e pelos outros enquanto por cá andamos.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Reza a lenda...

... que Spencer Tracy já estaria gravemente doente e que as lágrimas de Katherine Hepburn não faziam parte do guião.
 
 
Katherine Hepburn, que amou profundamente Spencer Tracy e com quem viveu uma belíssima e conturbada história de amor, emocionou-se às lágrimas com esta cena.
 
Das minhas cenas favoritas em todos os filmes que eu já vi.
Não só pelo texto muito bem escrito, pela fantástica mensagem que deixa, mas porque aquelas lágrimas me deixam paralisada de cada vez que revejo a cena. Admito que talvez imbuída no espírito da lenda.
Ao minuto 5:50, o olhar trocado entre eles trespassa a ficção and goes straight to their hearts.
 
Não acredito que haja alguém no mundo que não anseie por uma comunhão desta natureza algures na sua vida.
Acredito que seja isso que mova até a mais empedernida e desiludida pessoa na terra.
Abençoada a pessoa que já o sentiu e o pôde viver e que soube que o sentiu e o viveu.
 


sábado, 14 de dezembro de 2013

Parar para

Há desenhos, fotografias que nos fazem parar... para pensar, para sentir.
Simplesmente nos captam a atenção, seja porque as achamos belíssimas, porque nos intrigam, porque não as conseguimos decifrar, porque as repelimos.
Pela razão que for, fazem-nos parar. E isso vale muito.
Hoje foi esta.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cartas de Amor

Pelo Natal há um cd que me acompanha todos os anos, invariavelmente.
Não o ouço em mais altura nenhuma. Talvez seja tão especial por isso.
E ao som de "Amazing Grace", "Ao Sul", "Perdidamente" faço a minha caminhada nostálgica.
Por vezes melancólica, por vezes feliz.

(Um segredo, ssshhhhhh... Vão para a vossa divisão preferida da casa; na penumbra; de olhos fechados ou debruçados na janela a apreciar a calma da noite e ouçam... Amazing Grace
Beijinhos. Fiquem bem... e boa noite.)




domingo, 8 de dezembro de 2013

Selfie

Actualizado em 11/02/2018.
Porque mudamos, ainda que não percamos a essência do que somos.

Não tenho o dom da palavra, mas valorizo cada palavra.
Não me despeço com beijos ou beijinhos só porque sim, mas porque realmente beijo.
Sou tímida, insegura, envergonhada e o meus outros eus vou-os mostrando quando me sinto confiante.
Sou marota, brincalhona, palhaça, macaquita.
Entorno copos.
Perita em "bocas" cáusticas saídas do nada.
Demasiado responsável.
Não anseio grandes bens materiais porque não me fazem feliz.
Não sou apologista de amor e uma cabana, mas os alicerces de uma casa são os afectos. O pai tem que gostar da mãe e mostrá-lo aos filhos... Amor não é só apalavrado, é gesto, atitude, carinho espontâneo.
Fico sem acção perante um elogio, dificuldade que tenho vindo a aprender a contornar.
Ainda coro.
Tenho cócegas.
Sou distraída.
O mar traz-me paz e contemplação.
Gosto da liberdade das ondas, mas tenho medo delas.
Adoro vento, água, lagos, rios, espaços abertos, folhas.
Abomino a mentira.
Bacalhau com natas é um dos meus pratos favoritos, assim como as batatas de qualquer assado.
Uma das minhas palavras favoritas é sabedoria.
Brincava aos pais e filhos, mas nunca tive o desejo de ser mãe. Coisas que tu antecipas mesmo não o sabendo.
Gosto de flores campestres, campos floridos, florestas, mas tenho medo de bichos.
Ainda que possa ter medo, adoro animais.
Detesto filmes de terror, vejo-os entre os dedos e mal.
Estou cada vez mais medrosa.
Morte (minha e dos meus) é um assunto que me aterroriza.
Sou friorenta.
Gosto muito de cães.
A bondade no rosto é uma das coisas que mais aprecio ver nas pessoas.
Gosto de balancés.... de andar descalça... de sussurrar... de entrelaçar pernas....
Gosto do aconchego do peito de um homem... que me façam festas no cabelo.
Uma das minhas maiores qualidades é saber colocar-me no lugar dos outros, o que me faz ser excessivamente tolerante.
Dou regularmente o benefício da dúvida. Não me livro das críticas inerentes a tal, o ser apelidada de "politicamente correcta".
Continuo a acreditar nas pessoas até prova em contrário, apesar de algumas desilusões/lições bem dolorosas.
Detesto sofrer... envelhecer.
Tenho amigos de todas as idades... fico enternecida quando me procuram para os confortar.
Dualidade coração/razão é comigo. Até à exaustão...
Dança, cinema, teatro estão-me no ADN.
Amo tertúlias.
Gosto de surpreender com miminhos e carinhos.
Com a idade fui-me tornando desorganizada.
Os desafios dão-me medo, mas também vontade férrea de os ultrapassar.
Sou desconfiada.
Romântica envergonhada (...íssima)
Adoro viajar.
Daria uma excelente carpideira profissional.
Os meus lutos de amor duram mais que o próprio sentimento a dois (?). O que é uma perda dupla exasperante: o amor e o tempo perdido nesse desgosto.
Tenho um bom radar para descobrir amigos.
Admiro as pessoas que fazem parte da minha vida, mesmo algumas presentes só virtualmente.
Sou dedicada.
Confiança é fundamental para mim.
Quero acreditar que só tenho pitadas de ciúmes, perfeitamente controláveis.
Encanto-me perante uma boa escrita e excelente sentido de humor.
Emociono-me com trailers de cinema.
Dançar é um prazer desmedido.
Lido mal com as minhas falhas.
Tenho uns pés lindos.
Sou perfeccionista.
Detesto arranjinhos.
Sinto-me gata enjaulada quando me sinto pressionada para fazer algo que não quero.
Não acredito em amor, mas sim em atração à 1ª vista. Reparo nos olhos, voz e mãos... e rabo.
Mas é o que falam e como falam que me desperta a atenção redobrada.
Acho piada em conhecer virtualmente homónimas. Tenho duas no meu facebook e gosto muito delas.
Uma grande parte das minhas amigas mais próximas são aquarianas. Acho a coincidência engraçada.
Sou aquariana, ascendente em balança e vénus em carneiro. Não faço a mínima ideia em que é que isto influencia o meu ser.
Detesto insolência, arrogância e pedantismo.
Sou discreta.
Sonho com viagens aos Açores, fiordes, Américas, Canadá e Nova Zelândia.
Adoraria ter sido actriz.
Ganhasse o euromilhões e investia na criação de um cineclube e centro de artes.
Acho extremamente sedutor um homem que gingue bem e que escreva bem.
Alegro-me com a felicidade dos outros, principalmente  a dos amigos.
Entristeço-me com as tristezas dos outros, principalmente a dos amigos.
Eu e as decisões temos uma relação de amor/medo.
Adoro fotografia e fotografar.
Adoro comprar livros mesmo sabendo que não os vou ler imediatamente. Sou compradora compulsiva e o meu bolso ressente-se muito.
Não aprecio prendas impessoais. Gosto de as oferecer pensadas e sentidas e ver/imaginar a reação quando as abrem. E gosto de as receber pensadas e sentidas.
Gosto de tocar, de abraçar , estrafegar, ainda que não o faça regularmente.
Adoro andar às cavalitas.
Sou lamechas.
Não é-me uma palavra difícil de dizer e "fazer".
Melindro facilmente.
Sou reactiva.
E sou, e sou e sou...


















 

domingo, 17 de novembro de 2013

Utopias

Há propriedades intelectuais e emocionais de que me gostaria de apoderar.
Há coisas tão belas, mas tão belas que a par do deslumbramento da sua descoberta não consigo evitar uma ponta de inveja por não terem nascido de mim.
Num mundo utópico em que a prática do Mal seria clemente, eu entregar-me-ia  ao crime para acalmar esta fúria mansa da adoração.
Seria encarcerada, e quando me perguntassem "Que crime cometeste?" eu responderia quase orgulhosamente "Sou ladra do Belo".

Ternura
 desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

 Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te , lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
 
David Mourão Ferreira
 
 
Quem me quiser
Quem me quiser há-de saber as conchas
a cantiga dos búzios e do mar.
Quem me quiser há-de saber as ondas
e a verde tentação de naufragar.

Quem me quiser há-de saber as fontes,
a laranjeira em flor, a cor do feno,
a saudade lilás que há nos poentes,
o cheiro de maçãs que há no inverno.

Quem me quiser há-de saber a chuva
que põe colares de pérolas nos ombros
há-de saber os beijos e as uvas
há-de saber as asas e os pombos.

Quem me quiser há-de saber os medos
que passam nos abismos infinitos
a nudez clamorosa dos meus dedos
o salmo penitente dos meus gritos.

Quem me quiser há-de saber a espuma
em que sou turbilhão, subitamente
- Ou então não saber coisa nenhuma
e embalar-me ao peito, simplesmente.
 
As pequenas palavras
De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.

De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.

De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.

E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.

Primeiro a tua mão
Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé – o meu – sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda: quer mais pele, mais quente.
A boca exige: quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
Somos a maré alta de quem ama.

Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansando no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.

Poemas de Rosa Lobato Faria

*****
                 (dediquem um pouco do vosso tempo a este poema cantado. Não se arrependerão.)
 
 

Bandas sonoras

A música é o meio de transporte mais eficiente que há. Também o mais confortável. Os apeios são só os da imaginação. Ao destino final chegamos embalados em melodias e letras e nunca se encontrará maneira mais agradável, rápida e tão pouca dispendiosa de chegar aonde queremos.
Aquele escape à realidade ou então... a sua banda sonora. Quando descubro uma música que foi escrita de propósito para mim - evidentemente - vibro e agradeço aos céus a viagem.
É também um afago nos momentos mais solitários, mais solavancados.
Cadência precisa-se.

Algumas vezes me perguntaram qual o meu estilo de música preferido. Não sabia responder.
Hoje sei: não tenho. Eu respondo às músicas. Gosto ou não. Dizem-me alguma coisa ou não. Podem-me dizer tudo hoje e amanhã já nada me acrescentarem. Podem-me nada acrescentar hoje e amanhã tudo me dizerem. A cada estado de espírito ou físico, o meu ser escolhe a banda sonora para o momento.

E eis chegada a parte em que os meus aventureiros levam com a expectável lista de músicas escolhidas. Acrescento-lhe uma pitadinha cinematográfica porque todos os meus poros respiram cinema. Vejo-me como um filme cujas músicas ajudam a adensar a trama e, igualmente, a desvendá-la.

Para os momentos em que celebro a amizade

♪ Para os momentos em que me sinto confiante, segura e poderosa
 
 

♪ Para os meus momentos de romantismo exacerbado em que quero acreditar que toda a ficção tem um motor real (para minha perdição). 
 
Acrescento-lhe, na minha opinião, o melhor happy ending de um filme romântico.
 
 ♪ Para os momentos em que preciso de acreditar que as mais improváveis histórias de Amor são possíveis.
"The Piano" - a mais bela das histórias de amor.


♪ Para os únicos momentos em que a posse é desejável, desejada e bela.
 
♪ Para os momentos do mês em que a líbido está mais acesa e não aproveitada, em que cada nervo é uma espécie de nota musical. Chamo-lhes os meus momentos burlescos.
 
♪ Para os momentos em que preciso ir buscar a garra de bailarina arrojada e destemida
 
♪ Para os momentos de pura energia
  
♪ Quando sonho acordada
 
♪ Para me relembrar que o mundo ainda consegue ser maravilhoso
 
♪ Para celebrar a humanidade unida e fraterna
 
♪ Quando o sentimento patriótico aperta
 
♪ Para os momentos saudosos do pai
 
♪ Para os momentos em que gostava de ser musa inspiradora de arte
 
 
 ♪ Intimidade
 
 
 
 
 
 
♪ E o genérico final
 
 
 

To be continued...

sábado, 16 de novembro de 2013

Pedacinhos de literatura - "As velas ardem até ao fim", Sándor Márai

"A bailarina levava um chapéu de Florença de abas largas, meias-luvas brancas de croché, calçadas até aos cotovelos, um vestido de seda, cor-de-rosa, apertado na cintura, e sapatos de seda pretos. Apesar da sua falta de gosto, estava perfeita. Andava com passos incertos entre a folhagem, no caminho de cascalho, como se todos os passos terrestres que a conduziam aos objectos reais da vida, como por exemplo a um restaurante, fossem indignos dos seus pés. Tal como não é apropriado arranhar canções ligeiras nas cordas dum violino Stradivarius, assim guardava ela os pés, essas obras-primas, cujo único objectivo e significado só podia ser a dança, a dissolução das leis da gravidade, o rompimento das limitações deploráveis do corpo."

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Dores

Estava a pensar que uma pessoa não deve ficar minimamente satisfeita com os desaires dos outros. Paga-se por isso.
É possível ficar contente com a tristeza alheia? É.
Não me orgulho nada, contudo.
É um contentamento triste, infeliz.
E pensava que nestas coisas a vida não hesitava em dar-me lições e apontar-me aquele dedo acusatório "guilty, guilty, so guilty" e que a reprimenda viria logo que pudesse.
Veio mais cedo do que esperava...
I´m guilty because I love...

Estrelas precisam-se em terra

Quando vejo um casal que se ama ser separado pela morte há uma espécie de fosso meu que se alarga um pouco mais.
A 1ª reacção é culpar a Vida, Universo, Destino, Deus..., o que seja que me possa libertar desta limitação de nada poder fazer contra o irremediável.
Depois penso na imensa perda ao haver ainda menos Amor em vida.
Quero lá saber se nasceu mais uma estrela no céu... que o tornou mais cintilante...que vela por nós...
O céu tem muitas estrelas, a minha quero-a comigo.
Devia ser proibido casais que se amam morrerem. Seria inconstitucional em qualquer tribunal.
Ficariam para semente, sim... Porque o que há mais falta é exemplos de Amor.
Exemplos para os distraídos, para os imaturos, para os desiludidos, para os insensíveis, para os desistentes...
Não há como evitar o borboletear feliz e espontâneo perante a possibilidade de amar.
Então porque se evita, porque se foge, porque se faz sofrer?
Não somos muito mais felizes quando temos alguém a quem sorrir, dar um carinho, desejar um bom dia?
Não somos muito mais felizes quando temos alguém que nos faça sorrir, que nos dá um carinho, que nos deseja um bom dia?
E perante a morte dos que se amam, ao vazio da perda junta-se uma espécie de alívio por não ter sido connosco. Há o impulso de correr para o outro e dizer-lhe "não me deixes, ouviste?"
Mas pouco dura... Porque se há coisa em que preguiçamos é a Amar.


Foto de Gmb Akash


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Intimis

I won't wake up to the sound of your feet
Walking down the hall
Like a soft heartbeat
I won't wake up
Cause by the time that
I do you'll be gone

 I won't look back
On a past so long
I won't look back
On the things gone wrong
I won't look back
Cause by the time that
I do you'll be gone

 I won't have words
I've said all that there is to say
I won't have words
Cause I know you'll just throw them away
I won't have words
Cause by the time that
I do you'll be gone
By the time that
I do you'll be gone
By the time that
I do you'll be gone
 
 

domingo, 10 de novembro de 2013

Há lugares que nos chamam

Há lugares que me chamam.
Sempre que posso respondo ao chamamento. Quando lá chego encanto-me.
Depois, sei que é um lugar bom para mim porque me tranquiliza, me pacifica, me faz feliz.
E contrariamente ao conselho dado na belíssima música do Rui Veloso "As Regras da Sensatez" tento voltar sempre ao lugares onde vou sendo feliz.
É uma espécie de moid, o meu assinalado pelos lugares onde me inspiro.
Já estão marcados:

Braga, mais precisamente Vila de Prado. Aqui o tempo para e venho de energias recarregadas. Porque (não é só do sítio, não) tenho aqui uma das minhas mais belas amizades. Uma amizade supostamente improvável por ter começado virtualmente. Aqui vive uma amiga minha fada porque em tudo o que toca encanta, todo o problema que existe, se não deixa de existir, a sua preocupação diminui. Neste local há uma fonte mágica que em vez de água brota força interior.

Lisboa. Vivo em Aveiro, numa cidade que dizem ser das melhores do país em qualidade de vida. Mas Lisboa é que me preenche. No meio de todo o caos das filas, do rebuliço das pessoas, do movimento incessante, tenho o frenesim das artes, do teatro e de tantas mais coisas que me fazem sentir viva.
O meu coração bombeia muito mais em Lisboa, mas também daqui sai escoado. Sofro sempre na chegada e na partida.

Costa Nova. São as dunas, o mar, a areia, a tranquilidade, o fechar os olhos e deixar-me ir nas ondas...

Dornes. Aqui está um sítio mágico. Um pequena localidade incrustada no concelho de Ferreira do Zêzere com cerca de 600 habitantes. Acho que vi uns 6 habitantes, no máximo. Mal se via vivalma por ali. Nem o café local aberto. O seu casario é incaracterístico. Não é uma vila bonita como uma aldeia de xisto portuguesa. É encimada por uma torre pentagonal e a igreja Nossa Senhora do Pranto. É a sua história e localização que a tornam tão especial. Situa-se numa península à beira-Zêzere e está-se perante uma paisagem deslumbrante de água e verde. Apetece ficar ali sem horas marcadas a olhar, olhar, olhar, respirar fundo, olhar, olhar e olhar. Os seus habitantes só podem ser pessoas felizes.
Este sábado era ali que tinha de estar e compreendi porquê. É um retiro maravilhoso.
Em dias de sol, o vilarejo deverá ser banhado por uma luz incrível que só poderá elevar o potencial energético daquelas águas e daquele verde sem fim.
Será com certeza embelezado pelo romantismo das chuvas quando as nuvens zangadas e chorosas se apoderam dos céu.
O nevoeiro dar-lhe-á uma aura de mistério sem fim, como se fosse um sítio imaginado.
Ah, e os trovejos..., esses, serão pretexto agradável para um colo cúmplice.



















sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Sismógrafo

Acho que não devia fazer electrocardiogramas eu, devia fazer escalas de Richter porque me parece que em lugar de coração tenho um sismógrafo cuja agulha assinala o menor estremeço interior ou exterior com uma amplitude imensa: basta-me viv......er para a agulha não parar e que cordilheiras de tinta os meus dias. Se me perguntam

- Como vais?

só tenho a mostrar riscos enormes, capazes de fazerem cair todos os prédios da cidade e espanta-me que Lisboa permaneça intacta e o chão nem oscile.

António Lobo Antunes, in "Quinto livro de crónicas".
 
 
 
 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Sensores

Há dias que apetece dar, mas receber de volta.
Desculpem-me o pouco católico da coisa, mas como ouvi alguém "entendido" dizer por estes dias nós gostamos que nos tratem bem.
A química do amor explica isso fascinantemente.
Fico-me pelo sensitivo, sabe-me lindamente ser acarinhada.
Como diz o ditado popular "quem não sente não é filho de boa gente". E eu sou filha de boa gente.
Por isso, quando recebo uma prova de carinho inesperada que me faz concluir que não sou somente mais um ser  à face da terra , activam-se  os meus sensores da felicidade. Diz mais uma vez o entendido. Eu só sinto.
É que isto de acarinhar, amar, dar, animar, fazer sorrir, ouvir, estar atenta, apoiar, compreender, aceitar, ... funciona melhor ... reciprocamente.
Talvez por isso quando sou bafejada por ditos como "os meninos falam frequentemente de ti" eu esparralho-me toda e demora um pouco a apanhar os pedaços. Aqueles pedaços que perfazem um todo e que tantas vezes parecem desconexos.
Bem sei que nós mulheres funcionamos muito "olha para o que eu não digo" e que por vezes somos difíceis de descortinar.
Só se pede um pouco de atenção e... carinho.
 

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Sabe-me a boca a fado

"Quando me sinto só sabe-me a boca a fado."
 
 
Hoje ouvi isto e alojou-se.
Não estava só e fiquei.
 
E embalei assim pela noite, em ilha lá longe.
 
 


terça-feira, 29 de outubro de 2013

A viagem de comboio inusitada. Isto não é ficção.

(Para memória futura)

(D - desconhecido; S - Sandra)

A caminho de Lisboa, aos 23 de Junho de 2013:

D - A menina é de Aveiro?
S - Sou.
D- Eu sou do Porto. O bilheteiro ainda não passou aqui. Está ali na lengalenga. Podia ter vindo à pato até aqui.
S - ...
D - Engajou ali com uma moça nova e não a larga. A mulher em casa, ele a meter conversa... Está a compreender a situação? É um pássaro vivido.
S - ...
D - Vai para onde?
S - Lisboa
D - Eu vou para Pombal. Vai a uma festa?
S - Vou ter com amigos.
D - (sorri manhosamente) Vai é ter com o namorado...
S - ...
D - Quanto paga de bilhete?
S - Eur 18.00
D - Se o seu namorado a viesse buscar ficava mais bem servida. Tomavam o pequeno almoço, íam até à Mealhada comer um leitãozinho e depois íam para Cascais (que aquela água não vale nada, é cá um frio acima, aquilo é só rochas!!)
S - ...
D- Gosta de leitão?
S - Gosto...
D- E de borrego? Um bom borrego assado?
S - Gosto...
D - E de vinho? Branco?
S - Gosto...
D - No Fundão comi naqueles restaurantes de rua um borrego, era cá uma pratada de carne só com um bocadinho da batatas. Nem lhes toquei tanta era a carne. Uma coisa que nós os motoristas (eu sou motorista, sabe?) nos orgulhamos é de saber onde comer bem, de conhecer as estradas todas e perceber de mulheres. Ahahah, não me leve a mal...
S - ...
D - O bilheteiro continua na conversa. Já deve ter o nr. dela. Se eu não estivesse aqui, ele punha-se na converseta com você!
D- Tem filhos?
S - Não...
D -  Porquê?!?! Não quer?!?!?!
S - Quero.
D - Você é nova, não é?
S - Sou.
D - Que idade tem?
S - Que idade me dá?
D - 27
S - Acertou em cheio, tem bom olho...
D - Que idade me dá?
S - 33 (ele percebeu 23)
D - (ri-se) 23 tenho eu de camionista e 17 de carteira profissional. Já conheço o mundo todo! Tenho 45 anos.
D - Pode aproveitar e ter filhos com este namorado. Quer ter um filho ou filha? Sabe como fazer um filho ou filha? Sabe que é o homem que decide?
S - Sei. Vocês decidem e nós carregamos...
D - Quer saber como se faz? Mas isto é segredo, eu sei a verdade. Não pode andar aí a contar a toda a gente...
(ups)
S - Então, como se faz uma filha?
D - Quer mesmo saber?
(Ajeita-se na cadeira e por momentos acho que vai simular o acto)
D - Se quer ter uma filha, o homem tem de ser ano ímpar!
S - ??? Como assim?
D - O homem tem de ter 23, 25, 33, 'tá aperceber? Se for filho é ao contrário. Acredite no que lhe digo, é mesmo assim. Mas não ande por aí a dizer...
D - Está a ver os homossexuais?
S - Sim?!... (baralhada)
D - É por isto. Se uma filha nascer no ano par do pai vai ter hormonas masculinas e se um filho nascer no ano ímpar do pai vai ter hormonas femininas.
D- Olhe, o bilheteiro já aí vem. Paguei Eur 14,70 para nada. Lá vem ele todo sorridente, com a sua barriguinha. Típico português...
(Ouve-se um barulho estranho nos carris)
D - Rebentou um pneu, o cabrão!  Ahahahah
D - Conhece o Sida? Já ouviu falar?
S - Sim...
D - Donde vem o Sida? Sabe o que é?
S - É um vírus...
D - Não!! É um gene!! Está a ver Atlanta, nos EUA? Foram uns cientistas que o criaram. Ainda o seu pai era jovem e já se sabia que havia muita gente na terra e que não ía haver comida para todos. Era preciso matar pessoas.
D - Sabe quem são as pessoas mais valiosas no mundo neste momento?
S - Não...
D - É um casal de portugueses!!! Descobriram a cura do Sida e de outras doenças, mas agora estão escondidos. Levaram-nos para umas instalações. Descobriram a célula de Deus.
 (Ía-me engasgando)
D - Eles descobriram um gene, que uma pessoa pode ficar viva 100, 200, 300, 400 anos e mais. Ter filhos e fazer uma vida normal. ´Tá a perceber?
S - Sim...
D - Eu 'tou a falar isto tudo que é para você não ir calada, a olhar só para a janela. Assim vamos falando. Mas isto tudo que lhe digo é verdade.
S - ...
D - Desculpe que lhe diga, mas é bonita. Tem uns olhos bonitos.
S - Obrigada.
D - Gosta de comer?
S - Gosto.
D - Já almoçou?
S - Sim, já.
D - Ahhh, já está almoçada!! Um bifinho?
S - Sim
D - Uma batatinha frita?
S - Sim
D - Um ovo a cavalo?
S - Sim
(Almocei uma salada)
D - Sabe uma salada boa para os seus olhos? Um pote de iogurte, uma courgette ou pepino, uma cebola, um alho. Tudo muito migadinho, 'tá a ver? E mistura no iogurte e depois põe por cima da salada. Eu já percorri mundo, já comi de tudo. O comer faz bem ao espírito. Assim, anda sempre com um sorriso e não precisa dos outros. Qual é o seu sonho? Agora?
(Apanha-me desprevenida)
S - Tantos, não sei :)
D - Sabe qual é o meu? Trabalhar seis meses e nos outros seis pegar nos meus filhos e passear num veleiro. Já andei a ver preços e já se compra um veleiro por dez mil euros. Eu tenho a carta de mar. Sabe quanto se paga por ter um barco atracado? Uns setenta euros. Foi a menina que escolheu este lugar?
S - Fui.
D - Como é que escolheu?
S - De facto só escolhi que queria frente e janela. O lugar definiu a CP.
D - E como é que sabe que é aqui o seu lugar? Que é aqui que deve vir sentada?
S - O bilhete tem o nr da carruagem e o nr de lugar...
D - E como sabe que é esta a sua carruagem?
S - Vi o nr da carruagem antes de entrar...
D - Aahhh, um número.... Eu entrei numa porta ao calha. Eu mostro o bilhete ao contrário. Se o bilheteiro reclamar pergunto-lhe o que é que ele tem a haver com isso.
(Mostra-me o bilhete, aquela não era a sua carruagem)
D - Então não tem filhos?
S - Não...
D - Eu tenho 4.  3 rapazes da mesma mãe e uma rapariga de 17 anos.
(Façam as contas...)
D - (sacando de uma foto) Este é o meu mais novo, tem 4 anos. O sacana só gosta de playstation.
Os filhos é o melhor que nós temos...

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

♣ Confiança

Há palavras pelas quais tenho especial carinho, seja pelo seu significado seja pela sua sonoridade.
Coisas minhas... (Dou por mim muitas vezes a prestar atenção à sonoridade do meu nome, soletrando mentalmente as duas sílabas que o compõem.)
Uma das minhas palavras de eleição é confiança. Há um tom aveludado na mesma que me faz lembrar colo e proteção.
E depois considero-a uma qualidade fundamental numa pessoa, daquelas que define o tipo de relação com outros.
Podemos ter muitos amigos, mas confiamos em todos?
Quanto a confiança ajuda a definir os das nossas relações entre "conhecidos" e amigos"?
Por quantos amigos teremos mais amor e carinho que familiares devido à confiança que nos despertam?
Desperto confiança? 
É uma das batalhas da minha vida. Por isso, quando sinto que confiam em mim, toda eu enterneço e penso que talvez - afinal -, esteja a traçar um bom caminho.
Por estes tempos tenho sido presenteada com colos destes:

 ♣ Quando uma amiga cobra as minhas ausências e confidencia "o meu filho está farto de perguntar quando vais lá a casa."
 ♣ Quando uns bracinhos pequenos se tornam imensos num abraço apertadinho, apertadinho e me chamam "tia xana"
♣  Quando a 300 km de distância me perguntam "Quando vens a Lisboa para nos conhecermos?"
♣  Quando (confiança maior) me apresentam num primeiro encontro o seu filho
 ♣ Quando, sem me conhecer de lado nenhum até há instantes, aceitam a minha mão para atravessar a rua
♣  Quando os clientes me dizem que confiam em mim
♣  Quando me convidam para dançar em algum sítio
♣  Quando me falam dos seus piores receios
♣  Quando me falam das suas falhas
♣  Quando me contam um segredo
♣  Quando me abrem as portas de suas casas

Obrigada, das profundezas do coração.

Sabedoria  Retalho ♣ Aventura ♣  Colo ♣ Balancé Inocência Embalo Cinema Lisboa ♣ Água.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Magias


Hoje acordei como o dia, cinzento e choroso.
De regresso do almoço, nos meus pensamentos lá longe, sou chamada à terra por um toque no ombro.
“Hum” e mostra-me uma petição para assinar. Era para uma construção de uma casa de acolhimento de surdos-mudos.
Com um pé na terra e outro sei lá onde, neguei, continuando caminho.
A rapariga volta a tocar-me “hum” e insiste para eu assinar.
Não é preciso muito comigo. Começo a preencher.
Ela interrompe “hum”, passa a mão pelo rosto dela e desenha um beijo para mim.
Eu olho para ela e continuo.
“Hum” interrompe novamente. Olho-a. Então passa a mão pelo rosto dela, tipo mágica faz nascer um sorriso, e desenha novamente um beijo para mim.
Conseguiu o meu sorriso…

domingo, 13 de outubro de 2013

Histórias dançadas



Desde o 1º momento que me senti entusiasmada com este projecto.
O seu crescimento foi um trabalho de amor. Como todo o Amor, teve os seus altos e baixos, mas no final o que conta é relação que se fortalece, o filho que nasce.
E acho que foi por isso este espectáculo foi amado por todos o que o viram. Porque era autêntico, simples, suave e feliz.

Uma dança são 3 histórias: a do coreógrafo, a dos bailarinos e a dos espectadores.
O menos importante é que sejam coincidentes. Opiniões, visões diferentes enriquecem as danças. O mais importante é que sejam histórias sentidas.

Fã que sou de histórias de bastidores deixo-vos uma espécie de raio x do que senti quando dancei e do que senti quando vi dançar.

*

Somos livres para celebrar
Somos livres para nos libertar
Como crianças brincando
Crianças sorrindo
Crianças sendo crianças


Balancé - Sara Tavares

Esta era a coreografia de abertura.
Era-nos pedido descontração, boa onda, tranquilidade, sorrir.
Imaginei-me num paraíso em que dançávamos uma espécie de celebração da vida, uma paz de espírito e felicidade sem fim, um estado amoroso tão completo que se tornava uma autêntica fortaleza aos problemas. As mãos serviram-me de colo.

*

Um sensação doce,
Um sombra bo magia,
Nha vida inteira m ta dá
Sô pa um segundo de bô sorriso.
Êh grandéza di amor
Bem maior ki tudo dôr
Abri asa e voá...


Muna Xeia - Sara Tavares

A paz, a harmonia dançadas.
A magia, pelos movimentos da Diana e da Cláudia.
O nervosismo, a ansiedade acalmavam enquanto esperava a entrada para a dança seguinte.
Vê-las em palco, eu que estava no escuro da coxia, sabia-me a segredo, tipo menina que espreita pela fechadura e vê algo que a deslumbra.

*

Eu sei que é fácil de montar o aparato da menina que é culta
Mas também, sorrir sai mais barato que cuspir pensamentos à solta
E olha quem, tem a fome da sinceridade ao menos não te dei a volta
E eu não volto a jogar à cabra-cega com usted
Eu sei que é fácil de montar o aparato da menina que é esperta
Mas também, fugir pra ti faz parte de investir na pessoa certa.


Cabra Cega - Márcia

A inocência dançada.
Uma espécie de retorno à meninice em que tudo é descoberta feliz, sentida a cem vivida a mil.
Aquela inocência que nos vai sendo roubada sem darmos por ela e que depois tanto lutamos por resgatá-la. A partilha que não divide, mas multiplica.

*

Teatro "As Mulheres"
Fontes de inspiração: "Nós, as mulheres" de Maitena Burundarena, escritora e cartoonista argentina; e nós :)

A prova de fogo. Privada e do grupo.
Num espectáculo de dança, tornou-se um dos momentos favoritos do público.
Foi uma prova de esforço, criatividade, empatias, auto-crítica e risadas até mais não em conjunto.
O meu 2º momento preferido do espectáculo.
Desafiei-me a criar uma personagem completamente diferente de mim. Tive muito receio de não o conseguir, de cair no ridículo, mas assim que assumi o que queria fazer, o caminho a seguir só podia ser em frente. E valeu a pena, como valeu a pena.

*

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
Na incerteza que nada mais certo existe
Além da grande incerteza de não estar certa de nada
Ai que saudade
Que eu tenho de ter saudade
Saudades de ter alguém
Que aqui está e não existe
Sentir-me triste
Só por me sentir tão bem
E alegre sentir-me bem

Desfado - Ana Moura

Porque o (des)fado é vivido por todas mulheres, belas, menos belas, insuportáveis e as mais meigas possíveis, as chatas, as interessantes, as pragmáticas, as sonhadoras,...
Um corridinho apressado tal como a vida, mas cujo nervo de viver está em cada poro de nós.

*

Vídeo "Mulheres"

Fomos ouvir a opinião de mulheres mais velhas sobre o que achavam sobre ser mulher.
Gravámos em vídeo momentos hilariantes, opiniões marotas, divertidas, sérias, mas o que me recordo mesmo é do sorriso orgulhoso enquanto falavam do ser mulher.

*

Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu


A pele que há em mim - Márcia

3 bailarinas, 3 focos, 3 solos.
A mesma coreografia, intenções diferentes.
Belo esta coisa da expressividade. Uma mão, um braço, uma perna com o mesmo movimento e no entanto senti-o diferentemente em cada bailarina.
Um dos momentos altos do espectáculo, na minha opinião.
A prova de que a dança pode valorizar ainda mais um belíssimo poema e acordes.

*

Há uma música do Povo,
Nem sei dizer se é um Fado
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado


Ouvindo-a sou quem seria
Se desejar fosse ser
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver


Há uma música do Povo - Mariza

A minha melodia e dança favoritas.
Se é verdade que gosto da leveza, do (sor)riso, o meu coração bate mais forte pelo drama.
E nesta dança pude explorar o meu lado de "drama queen".
Para o expressar fui ao baú das mágoas, do desalento, da desilusão, da perda de esperança.
Espero um dia poder dançá-la novamente. Sem eu o esperar, tornou-se num dos momentos mais intensos que vivi em palco nestes anos de dança que já levo.

*
Quando me sinto só
Sabe-me a boca a fado
Lamento de quem chora
A sua triste mágoa
Rastejando no pó
Meu coração cansado
Lembra uma velha nora
Morrendo à sede de água.


Quando me sinto só - Mariza

Uma música poderosa só podia dar uma coreografia igualmente poderosa.
E que bem dançada foi pela gaiata de 18 anos :)
A provar que ali dentro não é só energia acumulada.
A 1ª vez que a vi em ensaio fiquei tão emocionada que a pikena levou um beijo bem repenicado pela emoção que em mim desencadeou.

*

A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu, partiu-se, caiu
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas.
Ao fundo um caco brilha entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-no por não saber por que ficou ali.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.


Apontamento - Margarida Pinto

A coreografia de encerramento.
Quando esta música foi sugerida para dançar, foi amor à primeira.
Uma letra e melodias contagiantes.
Sentia como uma coreografia dedicada à alegria, à felicidade estampada no rosto porque a vida tem muito de belo para dar.
Para mim, significou também uma ode ao nosso trabalho de meses.
Não podíamos ter terminado da melhor maneira, abraçadas em círculo, a rir às gargalhadas :)

**
 
Dizem que quando nos emocionamos, sentimos. Estranha associação, no entanto.
Emocionamo-nos quando rimos durante uma comédia, quando coramos de vergonha, quando choramos de dor ou quando o ritmo cardíaco acelera na presença de alguém que nos atrai. As emoções nascem de forma selvagem, incontrolável e efémera, passageira. E mais: são públicas, é possível ver os seus efeitos.
Mas, como chamar ao que, algures no recato do nosso interior, encontra as emoções e constrói a manta do ser que vamos sendo?
Chamemos-lhe sentimentos. O sentimento é construído. Regista e decifra cada emoção que passa. O sentimento permanece, persiste. Pertence à esfera do privado. O sentimento só se vê reconhecido por quem o cria.
 
(Paula Mata)