sexta-feira, 27 de março de 2015

Teatro

Tenho uma maior predisposição para o drama.
Há uma drama queen em mim que anseia por alimento constante.
É a minha zona de conforto, ao contrário da comédia que me faz sentir mais exposta.
Tenho um certo pudor na demonstração de alegria. É uma grande parvoíce, eu sei, mas a verdade é que o sinto regularmente.
Quando começo com graçolas, piadas, brincadeiras e provocações é sinal que  passei a confiar nas pessoas com quem o faço.
Até lá vêem a Sandra reservada, meio misteriosa. Para alguns inatingível, para outros até antipática ou com a mania, tenho a certeza.
Assim se passa em palco: o maior à vontade no drama que em comédia.
O ano passado deram-me o enorme desafio de voltar a representar e para me amedrontar ainda mais desafiei-me a mim própria criando uma personagem cómica. Saiu-me das entranhas e foi doloroso, reconheço-o. Nem sempre o que gostamos de fazer é fácil, mas é uma sorte poder fazê-lo.
O feedback, esse foi maravilhoso a todos os níveis.
Não me considero dotada a nível artístico, seja no teatro ou na dança. Sou esforçada, exigente e trabalhadora. Isso traduz-se em perfeccionismo, em estar com alma nas coisas, o que leva as pessoas a confiarem no meu trabalho. É sentir essa confiança em mim que me faz feliz.
Esse espectáculo do ano passado teve a presença da minha mãe e pessoas que me conhecem desde pequena. Pessoas que só vêem a Sandra reservada.
Senti necessidade de saber o que a minha mãe tinha achado da minha prestação. E não me esquecerei dos seus olhos brilhantes e sorridentes ao dizer "a rapariga transforma-se, tem jeito para fazer rir".
Significou o mundo o que ela me disse porque sei que sou uma pessoa difícil de me dar a conhecer e encontrei no palco a escapatória para tal. As personagens têm sempre de mim. Não propriamente traços de carácter, mas a vontade, a necessidade de expressão de tanta coisa que pelos canais "comuns" me é mais difícil. E depois, ou ao mesmo tempo, uma forma de diversão pura.
O teatro será sempre a história: a nossa misturada noutras, que queremos dar a conhecer.
E em que nos damos a conhecer.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Memória

Há dias em que em ti talvez não pense
a morte mata um pouco a memória dos vivos
é todavia claro e fotográfico o teu rosto
caído não na terra mas no fogo
e se houver dia em que não pense em ti
estarei contigo dentro do vazio.

FOGO
Gastão Cruz