O senhor
piscou-lhe o olho, acenou com a cabeça e sorriu mostrando que tinha reparado na
sua presença e seguiu caminho.
Um sorriso enorme
abriu-se no rosto do rapaz. Por vergonha ou excesso de contentamento (ou
ambos), o seu corpo mexeu-se irrequieto, as mãos pareciam não ter sítio onde
pousar e olhou para as pessoas à sua volta -
o enorme sorriso mantendo-se - como que a dizer “Viram? Ele sorriu e
cumprimentou-me? Viram? Ele reparou em mim…”
Há pessoas que
importam mais que outras e é a atenção delas que contribui para a nossa
felicidade (também). Por muita atenção e interesse que tenhamos de muita gente,
é a daquelas que nos importa que conta acima de tudo.
Por muito que
necessitemos do nosso espaço, acredito na necessidade imperiosa de preenchermos
outros espaços. Um não exclui o outro, óbvio. E acho que a nossa felicidade
maior passa essencialmente por aí, pelos espaços em que nos deixam entrar e
conviver.
Depois existem os
espaços a que desejamos pertencer. Há pessoas que importam mais que outras.
Não tem de ser recíproco, mas é essa reciprocidade que ditará a existência e
sobrevivência do relacionamento.
A atenção que nos
é dedicada e a que dedicamos… Quando a balança se desequilibra pouco se salva.
Almas maiores
darão sem esperar em troca. As outras sofrem… porque tendo tido, não entendem
agora a desatenção, o desinteresse, o descuido. Ou se entendem, custa-lhes aceitar
o óbvio.
O óbvio de sermos
as mesmas pessoas que cativaram, importaram em determinada altura mas que agora
já não somos suficientes, pouco
significarmos e sabermos tão bem o que isso quer dizer. Porque também nós
significamos muito para outros que pouco ou nada nos dizem e lidamos com a
situação – quantas vezes – com desapego, indiferença, pragmatismo frio.
Porque é nosso
direito darmo-nos a quem nós bem entendermos, preenchermos o nosso espaço com
quem bem quisermos e desejarmos e no caminho desligarmo-nos de quem pouco ou
nada nos diz.
Mas este direito é
cru, egocêntrico e quando nos bate à porta entendêmo-lo, mas detestamo-lo.
Porque é um direito-espelho. Porque sentimos na pele o descuido e desinteresse que nós próprios infligimos a outros, porque sabemos o quanto isso dói e quanto faz sofrer.
E no meio disto
tudo, resta a delicadeza e sensibilidade no trato, não abusarmos da boa vontade
e generosidade de outros e sermos compassivos.
E seguir em frente aceitando a descoberta de novos espaços...