sábado, 27 de fevereiro de 2016

Contradições

Talvez a nossa maior obra seja resolvermo-nos a nós próprios.
Pessoa que não se questiona sobre si mesma não me inspira muita simpatia nem confiança.
Não somos perfeitos, e admitir isso não quer dizer que arranjemos uma desculpa para as nossas imperfeições. É um motivo, sim, para avaliarmos a nossa pegada e consequentemente o nosso rasto.
Há algum tempo que sou/estou (n)uma encruzilhada e ando às aranhas para lhe encontrar uma saída.
Estou a pedir ajuda ao tempo, mas sinto que não é essa a solução. Porque o perco e já não tenho idade para ser perdulária.
Cheguei à conclusão que não posso esperar encontrar a solução para tudo. Mais, que as soluções não são definitivas. A médio e longo prazos provavelmente terão de ser revistas. Porque se envelhece e novos horizontes se abrem, novas portas de sabedoria deslumbram-se. Porque novas circunstâncias provarão que a vida é uma constante mutação.

Hoje, mais do que nunca, aceito as contradições. Não estou a dizer que as entendo ou que as acarinhe. Só passei a aceitar a sua existência mais pacificamente, sem julgar tão veemente. Lições de vida.
Hoje entendo melhor que uma pessoa possa perceber algo, mas senti-lo e vivê-lo diferentemente.
Hoje consigo perceber que a razão e a emoção, partilhando a mesma crença, não permitam à pessoa reagir da mesma maneira. Repito, entendo, não quer dizer que não o repudie.

Assim, talvez dê algum espaço à compreensão quando por ex. um filho entenda o porquê da separação dos pais, mas os queira ver juntos mesmo que infelizes; um filho entenda que os pais tenham direito a recomeçar vida após o divórcio, mas não aceitem os novos companheiros; um ex-conjugue tenha querido o divórcio, mas não queira que o seu ex se apaixone de novo; um colega reconheça o excelente trabalho de outro, mas não consiga evitar a inveja; uma pessoa não sofra o que é suposto ser "normal" pela morte de um pai, não sentir propriamente saudades, mas que por encontrar alguém com parecenças, se desmanche em lágrimas; uma pessoa se apaixona por alguém, entenda que a outra pessoa não tem a obrigação de retribuir, mas se sinta profundamente magoada pela falta de estima; uma pessoa infiel não aceite a infidelidade de quem ama; entre tantos outros exemplos que me escapam.
Ressalvo todas as vezes que for preciso: entendo a contradição, não quer dizer que a aceite feliz e de bom grado.

Encontrei este texto abaixo que me aliviou no sentido de me permitir a identificação.
"Não sou a única". Como se em alguns casos saiba bem alguma generalização para não nos sentirmos tão desenquadrados.

http://lounge.obviousmag.org/coffee_is_my_boyfriend/2015/05/o-peso-de-amar-um-coracao-que-ja-ama.html

É muito difícil aceitar que não somos amados no mesmo grau que amamos ou que nem sequer o somos.
É muito difícil aceitar que quem gostamos ame outra pessoa e que não o esconda, numa insensibilidade compreensível qb de quem não tem olhos para mais ninguém nem queira saber do sofrimento que causa, a não ser o seu.
É muito difícil aceitar que a nossa presença é apenas bem-vinda quando conveniente.
É muito difícil aceitar que a nossa ausência não cause saudades.
É muito difícil aceitar que a vontade que tens para contribuir para um sorriso e quiçá a felicidade do outro, não inspire a mesma vontade.
É muito difícil aceitar que facilmente és substituível.
E com todas estas razões evidentes, vistas, minimamente explicadas, estupidamente o sentimento não te liberta. Ele vê, mas recusa-se a aceitar. E pede ajuda ao tempo.
Tempo que, tal como a contradição, acaba por desejar incoerente. Porque o deseja célere na resolução, mas lento no passar dos dias.



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