Ontem acabei de
ver uma série em que o mais importante que lhe retiro é a capacidade de nos
adaptarmos ao mundo através da nossa maneira de ser tantas vezes
incompreensível para outros e, quantas vezes, difícil de aceitar mesmo por nós
próprios.
Ontem acabei de
ver uma série em que o mais importante que lhe retiro é também a capacidade de
alguém nos conseguir fazer rir. Não aquele rir só de lábios, tantas vezes um
espasmo sem sentido ou com o sentido de não ser antipático, mas aquele que vem
das entranhas, que nos surpreende e obriga a relaxar a face e sorrir além lábios.
Há dias vi-me
emocionada com a morte de alguém que nem conhecia. Alguém que lia regularmente
em mural alheio e que marcava pela sua presença boa.
Há dias vi-me
emocionada com a morte de alguém que nem conhecia porque vi a falta que faria
aos que ficaram. Falta não só nas conversas, mas acima de tudo naquelas rotinas
que parecem aborrecidas, mas que constroem vida, amizades e afectos. É o lanche
que se paga e “para a próxima és tu”. É os coupons de supermercado que se
guardam porque vai dar jeito a…. É as promoções que se avisam. É o presente que
se tinha em mente e que fica por dar.
Acho que as
pessoas subestimam o poder do virtual nos afectos. Ou demonizam-no. Como se a
pessoa que somos no virtual se descole da real. Não. O que quer finjamos no
virtual somos nós, bem reais, porque a capacidade de mentir é real, só o caminho
é que agora também pode passar pelo virtual.
Há pessoas que
subestimam a capacidade de dar através do virtual, quando muitas vezes,
infelizmente, é mais fácil dar através deste do que no real. Porque a
capacidade de dar existe, porque não se dá o que não se tem.
Há pessoas que
subestimam a capacidade de amar através do virtual, que ferem do alto
das suas palestras, como se o facto de não vermos ou sermos vistos lhes tire a
capacidade de magoar e nos tire a capacidade de sentir.
Por estes dias
apercebi-me que com o avançar dos anos choro mais: de tristeza e de alegria.
Por estes dias
apercebi-me que com o avançar dos anos me emociono mais: seja com o bom ou com o
mau.
Por estes dias
apercebi-me que tudo é amizade e atenção, mas que estas são constantemente lesadas
com o egoísmo dos interesses próprios.
Por estes dias
apercebi-me que o nosso olhar muda inexoravelmente. De um olhar vivo, sonhador,
expectante para um olhar reflexivo, desalentado e conformado com o que a vida
não deu e provavelmente não dará.
Reflection, de Ron Hicks
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