sábado, 10 de maio de 2014

Inside job

"Mas não será a ideia de felicidade uma idiotice? Teremos mesmo necessidade dessa perspectiva irrealista? Limito-me a achar que viver instantes felizes já é uma sorte e uma glória. 
 o riso, um recurso maravilhoso."

Yasmina Reza
Jornal Expresso, 10/05/14

A propósito desta afirmação de Yasmina Reza, acho que é consensual que ninguém acredita na felicidade plena. Aliás, nem entendo o conceito de plenitude aplicado à felicidade para esta ser considerada como tal.
Acho lógico a felicidade ser pequenos instantes ou períodos mais alongados de alegria e satisfação. Com sorte podem ser muitos, espaçados, ou com ainda mais sorte, muitos e consecutivos. Em ambos os casos, plenamente vividos.
A grande questão é saber como lá chegar.
Lembro-me de em pequena achar que à medida que as pessoas crescessem e envelhecessem, as suas vidas tornar-se-íam sempre melhores. Hoje já não acredito,... mas desejo-o.
E dói cada vez que vejo pessoas que têm acompanhado o meu crescimento a envelhecer em condições cada vez mais tristes. Por doença ou por desgraça.
Há toda uma utopia que se esvai. E fico a pensar na vida, na minha vida. O que ando a fazer dela. O que ela me reserva.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar, mas não sabemos como o atingir.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar e fazê-mo-lo mal.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar e fazê-mo-lo mal a pensar que o fazemos bem.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar e desistimos antes de tentar.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar, mas o medo deixa-nos pelo caminho.
Algumas vezes sabemos onde queremos chegar e boicota-mo-nos.
Há pouco falei de sorte, mas não é só sorte, porque isso faria da felicidade algo somente aleatório e não o é.
Também é discernimento nosso, crença em nós e nos outros.
É esperança que os outros não nos vejam como meras distracções, que nos reconheçam algum valor e nos respeitem.
É desejar que quem venha, venha por bem e não nos sugue o que lhe falta para benefício próprio.
É conseguirmos avaliar o que não nos faz bem e afastar-mo-nos sem delongas.
É conseguirmos reconhecer o bom que nos aparece e não o toldarmos com as nossas dúvidas, as nossas desconfianças, as nossas mágoas, os nossos medos.
E é muita sorte quando alguém aposta em nós mesmo no meio de todos os seus quês e dos nossos quês... e o deixamos entrar, no meio de todos os nossos quês e dos seus quês.
A felicidade esgueira-se mais do que desejamos e cada vez mais acredito que é por pura incompetência nossa.

"Happiness is an inside job"



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