domingo, 1 de junho de 2014

Action heros

Desde tenra idade que me acho incompatível com crianças.
O relógio biológico foi concordante comigo e nunca foi resmungão. Quando lá de vez em quando resmunga, digo-lhe com espanto "estou-te a estranhar", ele envergonha e aquieta-se novamente.
Claro que gosto muito de crianças. Penso que, por isso mesmo, afirmei desde sempre que não tencionava ser mãe. Acho que elas olham para mim e com a sua perspicácia boa e pura desvendam na hora a fraude que eu seria como educadora. Por razões que evito aprofundar em demasia sempre achei que não daria uma boa mãe. É preciso ter disponibilidade e paciência para estar com uma criança. Sempre achei que tenho estas qualidades em doses pequenas. Muito francamente sempre tive um medo terrível de não conseguir fazer feliz uma criança indefesa, de não lhe dar os alicerces seguros e fortes para uma vida adulta sempre tão complicada.
O relógio biológico (o tramado...), acusando já o cansaço de um corpo em idade avançada para um filho, aquietou-se, mas numa vingança velada e subtil, tornou-me cada vez mais enternecida perante a presença de uma criança. É através delas que vamos mantendo alguma frescura e cor de viver num mundo cada vez mais pintado de cinzento. É através do olhar delas que ainda conseguimos ver e acreditar na utopia de um mundo melhor. É através delas que acho que ainda me salvo como ser humano quando uma pequenita de 2 anos, de olhos sorridentes, vem ter comigo para me dar um abraço e encosta a sua cabecita no meu ombro; quando um pequeno chora porque me vou embora; quando o meu sobrinho de 7 anos me vê e sorri; quando uma criança que me acaba de conhecer me dá confiantemente a sua mão para eu o ajudar a atravessar a rua. É através delas que reacende a ternura adormecida em mim.

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