sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sem-abrigo

- Lá em baixo, à entrada do prédio, está um sem-abrigo, dizia o senhor no estabelecimento comercial.
- É o mesmo de ontem, não é? - perguntou a dona. Ainda ontem o vi, até me dói ver o coitado.
- Alguém pôs uma floreira no sítio onde o senhor se deita para ver se ele se vai embora, mas ele agora foi para o outro lado da porta. Qualquer dia põem lá uma floreira também.
Quando desci o elevador esperava encontrar o sem-abrigo. Estava já deitado, a dormir. Eram 20hrs.
- Senhor...
O senhor abriu os olhos a custo, um olhar doloroso, lamacento.
- Tome,... isto é para si.
Ele olhava-me como se não acreditasse que eu me estivesse a dirigir a ele, mas a sua mão abriu-se instantaneamente. Mesmo sem olhar para o que lhe dava.
Quando sentiu o que era, fechou a mão e expirou "oh menina..."
Vim-me embora, parecia que tinha o meu pescoço agrilhoado.
Ser sem-abrigo deve ser como ser-se expropriado da sua própria pessoa.
Ser sem-abrigo num país estrangeiro deve ser como não ter sítio na vida...

1 comentário:

  1. Ainda bem que existem pessoas como tu. Muitas das vezes as pessoas esquecem-se que os sem-abrigo são seres humanos, que têm sentimentos, que têm necessidade de um ombro amigo ou de um simples sorriso.

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